Os buracos da vida

Hoje eu me pergunto onde estou. Ainda procuro os motivos que me fizeram eu me perder dentro desse vaso de carne e osso. Se me perguntar, direi que não sei. Tenho tentado me lembrar de quem eu era, o que eu pensava, se sorria. Eu me lembro de uma reclamona, mas reclamona da boca para fora. Tudo encenação para extravasar o nervosismo, a insegurança, a insatisfação. Mas que não era somente uma reclamona, era alguém que botava a mão na massa, carregava sacos de terra, regava as plantas mesmo estando de ressaca. Sobretudo era alguém que lá no fundo acreditava que tudo ia ficar bem. Sempre. Que acreditava que era só se esforçar que tudo iria dar certo. E tinha uma determinação no pensamento. Pensava firme naquela viagem e ela acontecia. Não havia nem dúvida! A partir de um ponto que não sei qual, de um momento que não sei quando, a dúvida chegou. Hoje eu acredito duvidando. Duvidei que a vida não pudesse ser somente flores como era, que não era possível eu merecer tanta coisa boa. E nesse vacilo comecei a me enfiar cada vez mais fundo em um buraco, com medo do mundo, achando que o que eu via como bom não podia ser bom para sempre. Cada célula do meu corpo gritava por mudança e eu estática, sem saber como mudar o que já não me satisfazia, como manter o que servia e como ser a nova “eu”. Mas como eu tenho muita sorte, sempre apareceu um ou outro anjinho para me ajudar a subir um pouquinho. “Você é uma luz, um chamariz de coisas boas, tudo que desejar para si e para os outros, terá” – me disseram e eu não acreditei. Só agora percebi que tudo sempre foi e sempre será reflexo do meu pensamento. Quando eu tinha certeza, tudo era certo. Quando eu não sabia o que queria, o mundo não sabia o que me dar e tudo ficou confuso, fui para lá e para cá e fiquei no mesmo lugar, em todos os sentidos. Agora estou sentada com as pernas balançando no buraco. Preciso decidir o que eu quero e acreditar que é possível, ser eu novamente, pelo menos a minha parte boa. Talvez esteja apenas cansada de tanta saudade, de tanta carência, de ser forte o tempo todo sem me permitir chorar. Preciso aprender a pedir ajuda, preciso aprender a ser sensível e não me fazer de durona. Preciso ter coragem e acreditar que não vai ser sempre assim do jeito que está agora. O animal migratório está cansado de não ter lar, parceiro e proteção. Essas palavras não são justas com minha família e meus amigos, mas é que chega uma hora que precisamos de um companheiro, alguém que te dê a sensação de segurança, mesmo que seja ilusão. É como um segundo alicerce. Mas... primeiro preciso acreditar que eu mereço um pouco de cada coisa que é essa vida, esse novelo formado por linhas coloridas, esse quebra-cabeças formado de diversas peças. Ninguém pode ser feliz com uma linha só, com uma peça só. E firmar novamente meu pensamento de que tudo que desejo vai acontecer. E aprender que só não será quando eu quero, mas quando for.
 
(não consigo mais "embeber" o vídeo aqui)

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