Poema da minha parte triste

Eu sinto uma dor constante
Uma tristeza de não sei o que
Aquela vontade que vem não sei da onde
Mudo, mudo o tempo todo
E a mudança dói
Vai ver é isso
Mas não vejo a vida sem mudança
Assim como não vejo o amor sem a dor
Tudo dói
Tudo fere a alma
Tudo me consome
Todos querem um pedaço
Sem me dar um abraço
Sem me darem um pedaço de si mesmo
Sozinhos
É como viemos e como vamos
Sinto saudade do tempo que não sabia disso
Sinto saudade do tempo da inocência
Do brinquedo
Do faz de conta

Olho para tudo com tanta alegria
Com tanta satisfação
E quando me olho no espelho não vejo nada
Vejo alguém que muda e deixa tudo para trás
Que não tem nada nem ninguém
E lembra-se que ninguém é de ninguém
Mas que essa ilusão aquieta a alma
E satisfaz o coração

Na eterna luta entre razão e emoção
Não sei mais quem ganha

Todos querem um pedaço
Mas do meu cérebro
Zumbis!!!
Eu quero coração

Sigo nessa mudança constante procurando uma constante
Essa vida que é tudo e não é nada
Essa vida linda e horrorosa
Série esquisita de contradições
Flor que desabrocha, morre e dá vida

Eu quero chorar, botar tudo para fora e não consigo
Não sei mais nem o que quero liberar
Grito sem saber o que gritar
Ando sem saber para onde ir
A mudança me chama mais uma vez
E eu sem coragem de ir para o finito
Se não é o final feliz, o que então anseio?

Me sinto presa dentro de mim mesma
Espero que alguém me resgate
Mas não me prenda


"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
...

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
...

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?"
Trechos do poema Passagem das horas de Álvaro de Campos (eu amo!)

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