Itália: visão poética

Uma viagem é diferente da outra. Não só pelo lugar, mas pelo impacto que causa em seu espírito. E o impacto é diferente em cada um.

Passeando por Roma sozinha me deu tempo de muitas reflexões. Enquanto meus pés pediam arrego, meus olhos queriam ver mais e minha mente entender tudo. Entender como esse mundo pode ser esse mosaico lindo de arte, sofrimento e paixão. Como o homem pode construir, criar, pintar coisas tão magníficas e destruir um ao outro com apenas uma palavra, um olhar, um gesto. Obras tão lindas para dominar através do medo do inferno, do medo de Deus. Obras que causaram uma ambiguidade de sentimentos em mim. Ao mesmo tempo em que sentia a energia de tanto tempo de fé naqueles edifícios, uma energia que fez me brotar lágrimas, também sentia o questionamento pulsando em mim. Como puderam transformar algo tão lindo em uma arma de dominação? Como pregar o amor ao próximo ostentando tantas riquezas que não servem para matar a fome? Eu via obras lindas que mostravam um mundo divino de medo. Treino antigo para temer o erro. Medo que paralisa e que nada ajuda a melhorar. Perdoar as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido, em contradição ao inferno que se é condenado se pecarmos. Tanta lição de amor transformada em política.

Construções magníficas para distrair um povo necessitado. Uma construção fantástica onde tanto sangue foi derramado. Onde, literalmente, houve lutas pela sobrevivência. Uma carnificina que alimentava um povo faminto, mas não com carne, com a visão sangrenta de massacres. Como os jornais da tv, as novelas e os programas vazios que temos hoje em invenções, menores, mas também magníficas.

Uma cidade linda, cheia de arte. Uma cidade que hoje é um caos de carros, turistas e barulho. Sim, me senti sozinha. Às vezes tenho a impressão de que quanto mais gente houver ao meu redor, mais me sentirei sozinha. Pensei em como eu tenho vivido tanta coisa boa sozinha. E como eu estou cansada disso.

Me senti bonita, mas bonita como um bife em um prato.

Conheci pessoas. E como sempre tenho a sorte, a maioria muito boa. Me intriga essa conexão entre pessoas que nunca se viram nesse espaço e tempo. É como se sentir em casa. É como se tivéssemos apenas nos reencontrando. É uma energia positiva assim de graça. E como é bom! Vi as diferenças culturais ao redor de uma mesa. E, apesar de tudo, como eu amo ser brasileira!

Eu passei os dias tentando gravar cada detalhe de toda arte que vi. Vi Davi e me surpreendeu seus detalhes. Não tinha expectativa nenhuma e foi uma surpresa! Tentava imaginar o que quem fez aquelas obras estava sentindo.

E como olhei o céu! De uns tempos para cá comecei a prestar atenção nesse teto natural. O vi de todas as cores. E senti a paz que aquele azul que se mancha de diferentes tonalidades de cores como o vermelho me transmite. Olhe mais para o céu.

Provei os sabores. Doces, salgados, amargos. As texturas. Os cheiros. Aquele croassaint crocante com nutella. Aquele café curto e forte. O gosto dos tomates nas saladas caprese. O cheiro do vinho.

E apesar de ser um lugar incrível, minha casa me chamava. De um jeito que eu nunca senti. E cá estou digerindo cada sensação, sentimento, opinião que mais essa viagem me trouxe. Ou pelo menos tentando. São muitas coisas misturadas. Externas e internas. E me pergunto: por que alguns lugares me fazem querer ficar e outros me fazem apreciar da onde venho?
 
 
 

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