Saindo da concha
“E é só
você que tem a cura pro meu vício
De
insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo
que eu ainda não vi” (Índios – Legião Urbana)
Sou diferente e ao mesmo tempo tão igual a todo mundo. Não
são as características que me fazem distinta, mas o conjunto delas.
Abomino
tudo o que não diz nada e tudo aquilo que me diz tudo sem me deixar descobrir
por mim mesma. Sou contradição porque amo a luz da lua e dias nublados enquanto
uma das minhas canções preferidas diz que quero sentir a luz do sol em meu
rosto*. Ah, como eu amo migrar! Sou esse animal migratório que se sente preso
quando permanece por muito tempo em um mesmo local. Que sente saudade de tudo e
todos e quer voltar, mas quando volta quer voar novamente. Que sente em seu
peito uma liberdade do tamanho do mundo e que mesmo assim gostaria de ficar
preso um pouquinho a alguém. Que chora porque esse alguém não existe e sorri
porque a busca parece mais excitante que o encontro. Amo o vermelho, mas também
gosto do azul, do verde e do preto. Amo rock e música clássica. Momentos de
solidão são essenciais. Neles mantenho minha alma leve, extravaso a tristeza e
descanso desse mundo que suga os sentidos. Momentos de solidão onde não me
sinto sozinha. Sozinha me sinto quando não me conecto aos outros nas rodas de
amigos. Sozinha me sinto quando ninguém me escuta ou me escuta e não me
entende. Gosto de ordem e aprecio o caos mental criado pelas idéias e pela
imaginação. Tenho medo de morrer e não tenho medo de morrer. Me assusto quando
se divertem quando eu falo e quando alguém quer me ver novamente. Vejo traços
bonitos no meu rosto, mas acho que estou enganada. Amo as pessoas e ao mesmo tempo
as odeio. Amo os animais mesmo detestando algumas aranhas e moscas. Amo as
cidades mesmo detestando poluição. Amo a natureza, toda a complexidade nela. Gostaria
de ser ruiva. Gostaria de saber desenhar e cantar. Amo escrever, mas nem
sei se escrevo direito. Detesto que acreditem me conhecer pelo que escrevo e
mesmo assim escrevo sobre mim mesma e meu mundo. Mas do que eu gosto mesmo é
viajar, migrar. Dentro de mim e por esse mundo. Descobrir, evoluir, sonhar,
realizar, amar, ver, tocar, sentir, abraçar, cantar, estudar, escutar, viver,
viver, viver, viver... Mesmo vivendo diferente do que regram. Mesmo querendo
viver sonhando e sentindo acima de tendo. Mesmo não entendendo a razão de acreditar
que meu destino será diferente do que acho que me satisfaria se eu fosse uma
pessoa normal.
E mesmo assim não me acho diferente de todos.
*I wanna feel
sunlight on my face (Where the streets have no name – U2)
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